segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma viagem ao universo crossdresser


O Emo Sapiens ficou viciado em sexo virtual por causa da sua dificuldade em se relacionar normalmente no campo afetivo no “mundo real”.
Por ser um hetero enrustido, talvez o único do mundo contemporâneo, que disfarça seu desejo incontrolável pelo sexo oposto dando doses cavalares de boga pela noite manauara pra ver se consegue se livrar dessa praga de desejo que o atormenta, toda noite, bem na calada da noite, ele entra em sites de relacionamentos, em salas de bate papo que permitem imagens eróticas.
Como até a palavra hetero o faz ter convulsões, ele entra em salas gays, de preferência de lésbicas, pois assim, de alguma forma torta, ele se aproxima do universo feminino que tanto lhe atrai sexualmente.
Ele aprendeu a mandar imagens para essas salas, coisa pra poucos, e por ter um gosto bastante apurado para a beleza e o bom gosto, ele logo se tornou uma celebridade nesse universo, apesar de permanecer anônimo, como é a regra nesse mundo underground.
Ele usa nomes variados, às vezes masculinos, às vezes femininos e alguns desses nicknames estão virando lenda nas escuras vielas do sexo virtual. Em uma dessas noites insones, onde nem o álcool nem as drogas lhe trazem alivio, ele entra em uma sala de lésbicas com o nickname Izabel-Bi, com o perfil de uma bióloga de Belo Horizonte que mora na Amazônia, que tem um namorado e se sente uma mulherzinha, mas que adora pegar meninas pra exercitar sua sexualidade descontrolada e compulsiva, o personagem preferido do Emo Sapiens.
A Izabel-BI é uma diva das salas de sapatas do underground mundo do sexo virtual, e quando ela entra, bota pra quebrar com os corações, mentes e grelos da mulherada.
Entre todas as inúmeras cantadas que a Izabel-Bi recebeu entre uma foto postada e outra, a de uma tal de Leila CD era a que mais lhe agradava, eram inteligentes, bem humoradas, gentis, delicadas, até ternas, coisa rara nesse ambiente hostil.
O Emo Sapiens se fazendo passar por Izabel-Bi começa um dialogo delicioso com a Leila CD e sua curiosidade sobre ela vai aumentando, e junto seu sentimento de afeto também e logo percebe uma identificação com aquela pessoa sensível e inteligente.
Descobre que Leila CD mora em Manaus também, no bairro de São Francisco, que é casada com uma mulher compreensiva, maravilhosa, que a ama e compreende, apesar de ter um ressentimento grande por ter casado com um homem chamado Sergio e que depois com o tempo de casamento vai se revelando um crossdresser e passa a usar seus vestidos, somente no ambiente do lar, enquanto faz questão de cuidar dos afazeres domésticos.
Os crossdressers são pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto, por qualquer uma de muitas razões, desde vivenciar uma faceta feminina (para os homens), masculina (para as mulheres), motivos profissionais, para obter gratificação sexual, ou outras.
O crossdressing não está relacionado com a orientação sexual, e um crossdresser pode ser heterossexual, homossexual, bissexual ou assexual.
O crossdressing também não está relacionado com a transsexualidade. Os crossdressers tipicamente não modificam o seu corpo, através da terapia hormonal ou cirurgias, eles se sentem como do sexo oposto, mas não querem ser o sexo oposto.
Para o Emo Sapiens essa experiência não foi de toda frustrante já que o que ele queria era o amor sincero de uma mulher de verdade porem ficou a amizade com Sergio de São Francisco, que nas noites silenciosas e insones se transforma em Leila CD.
Quando você ver por ai um nome seguido da inicial CD, trata-se de uma pessoa crossdresser. Sexo virtual também é cultura.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

MC Sapiens, o grafiteiro enrustido


Remela nasceu na periferia de Manaus, filho de cabocos vindos do interior. Desde cedo começou a freqüentar as ruas do centro da cidade e andar com os bandos de meninos de rua, todos descendentes dos índios despossuídos. Era um sem planeta, sem raça, sem credo, sem mãe e sem pai. Aprendeu a roubar por drogas e a dar voltas nos amigos pra sobreviver aquele mundo duro que cheira a cola de sapato e esperma misturado a bosta. Nessas de virar o mundo conheceu embaixo da Ponte do Educandos o Emo Sapiens, o cara que mudou sua vida. Emo o levou para o abrigo dos padres em que morava e cuidou dele e o introduziu nas tribos da cidade. Nesse contato ele não se adequou aos emos e sim com os rappers da periferia por conta do seu machismo atávico. Aprendeu a ideologia política dos rappers, o modo de andar de vestir e de curtir a musica como forma engajada. Passou a se chamar MC Sapiens e a grafitar pelas ruas da cidade. Junto com o Emo Sapiens e a Pussy Sapiens faz um triangulo amoroso enrustido. Apesar de ter idéias politizadas ele bate nas namoradas por não se aceitar homossexual e adora brigas de gang pra mostrar que ainda é o Remela das ruas de Manaus. O armário é sua prisão e seu pesadelo. Esse cara ainda vai dar problemas pra policia.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O irreversível destino do Emo Sapiens


Raimundo nasceu às margens do Rio Jaú no Amazonas, filho de caboclos descendentes de índios da Amazônia. Aos 10 anos de idade seus pais foram obrigados a abandonar a região, pois ela havia se transformado em reserva ambiental e a ONG que administra a área proibiu a entrada dos regatões, barcos regionais que fazem o comercio pelos rios, levando insumos básicos a sobrevivência dos caboclos já integrados ao modo de vida branco. Quando a sua família chegou à Manaus, foram jogados na indigência, pois não eram nem índios e nem brancos, e a vida dura em uma cidade grande os levou a morar nas ruas. Seu pai em pouco tempo estava roubando e traficando e sua mãe se prostituia pelas ruas. Quanto ao Raimundo, passava seus dias andando pelas ruas do centro da cidade cheirando cola de sapato com bando de meninos de rua. Aos 13 anos encontrou um padre que trabalha com resgate de indigentes, e tem preferência por meninos adolescentes. Na condição de protegido do padre pedófilo, ele começou a ter experiências homossexuais não consensuais em troca de comida e abrigo. Ao mesmo tempo ele começou a receber desse padre uma educação erudita, sendo iniciado no estudo da filosofia. Começou e ler Kafka, Baudelaire, Rimbaud, Fernando Pessoa, etc., e ao perceber que todos eram bibas, começou a achar normal ser biba também. Nessa idéia o padre deu uma ajudinha amiga. Dentro desse universo ele foi crescendo e seu dilema aumentando por se sentir deslocado nesse mundo estranho. Vivia numa cidade que nem era brejo nem metrópole, ele já não era mais índio e muito menos branco e o pior dilema, havia sido empurrado para a homossexualidade por circunstancias da vida, mas tinha sonhos eróticos com garotas, ou seja, ele era um hetero que forçadamente virou biba. Com o passar dos anos, essa angustia foi aumentando, transformando Raymond, ele até mudara o nome, em uma pessoa taciturna e introvertida, com serias tendências suicidas. Numa de suas tentativas de suicídio fracassadas, ele ficou resolvido a dar cabo da própria vida em grande estilo. Decidiu fazer o haraquiri baiano pulando da passarela em frente ao maior shopping da cidade. O haraquiri baiano é uma adaptação do ritual suicida japonês, consiste basicamente na pessoa pular de uma certa altura, nu, meter dois dedos no toba e rasgar. Dizem que é tiro e queda. Quando Ray se preparava para pular, ia passando a Gay Parade Baré, evento anual que reúne o maior numero de veadinhos indígenas do planeta. Ele resolve adiar o suicídio e cai na gandaia, foi quando conheceu uma bichinha paulista que o convidou para dar um rolé por Sampa. Raymond foi de mala e cuia. Para se enturmar e por hábito, continuou dando três dedos de cú todo dia, para poder se inserir na vida moderna da cidade grande. Com o tempo passou a se identificar com os emos, pois tinham o mesmo perfil dele, deprimidos, liam os mesmos autores, andavam em bandos e gostavam de queimar a rosca para sobreviver ao mundo cão. Assim nasce o Emo Sapiens, o emo pan amazônico transmutado para a metrópole que o suga cotidianamente. Se não fosse as recaídas sexuais quando ele bebe muito, o mundo estaria perfeito. Ele não pode ver uma mina gostosa que não consegue parar de pensar em comê-la. A luta entre a biba que quer se impor pela força da racionalidade e da vontade e o espada que no fundo ele é. Esse é o dilema existencial do Emo Sapiens.

sábado, 26 de setembro de 2009

Pussy Sapiens, a ultima punk


A Pussy Sapiens é uma punk bipolar adoradora de sexo, bebidas alcoólicas, passeatas, meninos e meninas, Ramones, gosta do tarado do Bukowski , baladas, shows de rock e raves. É uma típica garota paulistana, comedora de massa com tendência a engordar por isso vive brigando com a balança. Seu melhor amigo e amante casual é o ambíguo Emo Sapiens, por quem curte uma paixão depositada no fundo do armário, por conta da ambigüidade dele e também por ela querer ser moderna, ou seja, o que está na moda é garota pegar garota, é a transgressão da hora. Fumar baseado, haxixe, cheirar pó, tomar acido e ecstase, nada disso é mais perigoso. O lance é pegar garota no metro pra todo mundo ver. Ela adora tecnologia, internet, sexo virtual, talvez essa seja a forma de ela se manter distante das emoções que considera baratas. Tem um caso mal resolvido com o MC Sapiens, a quem pega nas horas vagas tendo forte suspeita que ele também pega o Emo Sapiens dentro do armário, mas isso de nada importa, o mundo é um caos e seu niilismo não a deixa sentir nada que não seja um tédio existencial profundo. O mundo ainda vai ouvir falar dessa garota.